A sonda espacial Voyager 1 completa 35 anos nesta quarta-feira. Lançada
no dia 5 de setembro de 1977, do Cabo Canaveral, na Flórida (EUA), ela
foi planejada para visitar e estudar os dois maiores planetas do Sistema
Solar: Júpiter e Saturno. Essa missão inicial se encerrou em novembro
de 1980. Mas a sonda foi muito além: a jornada já a levou para 18
bilhões de quilômetros de distância do Sol, à camada exterior da
heliosfera, fronteira com o - até agora - insondável espaço
interestelar.
A campeã anterior, a Pioneer 10, foi ultrapassada em 1998. Com o
feito, a Voyager 1 conquistou o recorde de objeto terrestre que viajou a
maior distância no espaço. Em 15 de junho deste ano, cientistas da Nasa
declararam que a sonda está próxima de se tornar a primeira nave
produzida por humanos a deixar o Sistema Solar.
A Voyager 1 tinha companhia antes do lançamento: a Voyager 2, sua
sonda irmã, lançada duas semanas antes, em outra trajetória. Hoje elas
se encontram a bilhões de quilômetros de distância. "Composta por duas
sondas espaciais, a Missão Voyager teve como objetivos o estudo e
exploração, in loco, dos planetas gasosos do Sistema Solar,
Júpiter, Saturno, Urano e Netuno", explica José Leonardo Ferreira,
doutor em Ciências Espaciais pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe).
Curiosamente, a Voyager 2 foi lançada antes do que a 1 e está menos
distante da Terra. Conforme Antonio Fernando Bertachini de Almeida
Prado, doutor em Engenharia Espacial pela Universidade do Texas, os
nomes (no caso, os números) foram dados pela ordem de chegada a Júpiter.
"No espaço, para viajar entre os planetas, a linha reta não é a
trajetória mais econômica (em termos de combustível) entre dois corpos
celestes. Trajetórias elípticas são mais econômicas. A Voyager 1 seguiu
um arco de elipse de período mais curto e, mesmo lançada depois da
Voyager 2, chegou primeiro a Júpiter", justifica.
Trajetória de conquistas e descobertas
Segundo Ferreira, o período de lançamento das Voyager 1 e 2 foi
determinado pelo posicionamento dos grandes planetas em relação à Terra,
obedecendo às leis da mecânica celeste que possibilitam a utilização do
efeito popularmente conhecido como estilingue gravitacional. "Ele
permite que a sonda possa ser lançada para distâncias maiores, podendo,
assim, atingir objetos mais distantes do Sol no Sistema Solar",
esclarece o professor do Instituto de Física da Universidade de Brasília
(UnB).
Para viabilizar a missão, Prado explica que foi utilizada a técnica de Swing-By,
na qual uma passagem próxima a um planeta gera energia para a nave
continuar a viagem. Dessa forma, foram feitas duas naves, cada qual com
sua trajetória programada pelos seus objetivos. "A Voyager 2 teve uma
trajetória diferente para que pudesse passar por Urano e Netuno,
enquanto que a Voyager 1 visava a estudar os satélites de Júpiter e
Saturno", aponta.
Dentre as conquistas e descobertas feitas pela Voyager 1 desde o seu lançamento, Ferreira destaca o estudo das luas galileanas Io e Europa, de Júpiter, além da lua Titã, de Saturno , que estão entre as maiores do Sistema Solar. Para Prado, o estudo da atmosfera de Titã foi importante, pois o satélite apresenta condições similares às da atmosfera terrestre na época do início da vida na Terra.
O chefe da Divisão de Mecânica Espacial e Controle do Inpe aponta ainda
outras importantes descobertas: o fato da Grande Mancha Vermelha ser um
furacão na atmosfera de Júpiter; a existência de um anel em torno de
Júpiter; atividades vulcânicas em Io; as três luas de Júpiter: Tebe, Métis e Adrastéia; e o estudo da atmosfera e das estruturas dos anéis de Saturno.
Com isso, a Voyager completou sua missão e seguiu viagem, atingindo o
choque de terminação, última fronteira do Sistema Solar, em dezembro de
2004. Após Júpiter e Saturno, a Voyager 1 estudou a velocidade do vento
solar, além da temperatura e níveis de radiação do espaço
interplanetário.
A Voyager 1 ainda não cessou suas atividades, mas elas demoram cada
vez mais para serem detectadas na Terra. Os dados enviados para a Nasa
demoram cerca de 17 horas para chegar. "Essas ondas que trazem as
informações da Voyager para a Terra viajam na velocidade da luz, que é
grande, mas finita. Sendo assim, quanto mais longe a sonda está da
Terra, maior o tempo que as ondas levam para chegar até nós", explica
Prado.
O futuro da Voyager 1
Quando a Voyager 1 foi lançada, em 1977, era difícil imaginar que ela
seguiria operando 35 anos depois, e com previsão de continuar ativa até
2020. "Nesta época, a Voyager 1 estará a 20 bilhões de km, 1 dia-luz de
distância do sol", afirma Ferreira, pesquisador visitante do Laboratório
de Propulsão a Jato (JPL, na siga em inglês) da Nasa em 1987.
Conforme Prado, é difícil prever a duração de uma missão, ainda mais
em um espaço ainda não estudado, sem saber os detalhes de radiação, que
poderiam danificar os aparelhos. "Fica difícil colocar um prazo de
validade, mas creio que ninguém imaginava tanto", diz.
Outro fato que torna ainda mais impressionante a Voyager 1 seguir
funcionando e mandando informações é a sua tecnologia. Portando uma
relíquia do início da era espacial, a sonda possui apenas 68 kilobytes
de memória de computador, enquanto o menor iPod tem 8 gigabytes de
memória, cerca de 100 mil vezes mais potente.
Mesmo assim, com pouca memória, a Voyager 1 registrou descobertas
importantíssimas e a trajetória mais distante de um objeto terrestre. E
por mais alguns anos, cada vez mais distante de casa, ela seguirá
perscrutando um universo inexplorado pelos humanos. Até 2020, quando
seus últimos sensores de comunicação com a Terra forem desligados. Para
poupar energia, sua câmera já foi aposentada.
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