Cientistas concluíram que missão espacial prolongada pode afetar os padrões de sono da tripulação.
Para medir o impacto do confinamento prolongado sobre os padrões de
sono, desempenho e humor dos astronautas, a equipe de pesquisadores da
universidade mediu a atividade de uma tripulação durante uma missão simulada de 520 dias até Marte,
a 'Mars 500', experimento realizado pela Academia Russa de Ciência em
parceria com a Agência Espacial Europeia. "O sucesso dos voos espaciais
interplanetários, que devem acontecer ainda neste século, vai depender
da capacidade dos astronautas de permanecer confinados e isolados da
Terra por muito mais tempo que as missões anteriores", disse David
Dinges, professor da Divisão de Sono e Cronobiologia da Universidade da
Pensilvânia, e um dos autores da pesquisa publicada nesta segunda-feira
na revista PNAS.
O projeto 'Mars 500' isolou uma equipe de seis homens, voluntários, com
treinamento em missões espaciais, engenharia, medicina e fisiologia em
uma cápsula construída em Moscou que simulava o ambiente de uma nave
espacial, onde tiveram de realizar atividades típicas dos astronautas. A
missão foi dividida em três fases: 250 dias para chegar até Marte, 30
em uma superfície que simulava a do planeta e 240 para voltar à Terra. A
missão teve início no dia 3 de junho de 2010, quando as escotilhas
foram fechadas, e a equipe foi isolada do resto do planeta.
Simulação marciana — Durante a missão, a equipe
realizou mais de 90 experimentos, permaneceu em contato permanente com o
"controle" da missão na Terra — simulado pelos pesquisadores — e teve
horários controlados de trabalho. Enquanto a experiência transcorria, os
pesquisadores mediram os ciclos de sono, intensidade de movimento,
exposição à luz, fadiga, estresse e mudanças de humor da tripulação.
Eles também realizaram, uma vez por semana, uma avaliação neurológica de
cada um dos astronautas, por meio de testes realizados em computador.
Como resultado, descobriram que desde as primeiras semanas a equipe se
tornou mais sedentária, diminuindo o volume total de movimento no
decorrer da missão. Conforme o tempo passava, os astronautas gastavam
mais tempo dormindo ou descansando, se expondo cada vez menos à luz
artificial da espaçonave. Eles também passaram a apresentar uma série de
distúrbios referentes à qualidade de sono e performance. Isso, em uma
pequena tripulação isolada a milhões de quilômetros do resto da
humanidade, poderia trazer sérios problemas para o desenrolar da missão.
Segundo os pesquisadores, o resultado sugere que as agências espaciais
devem balancear os níveis de atividade e a quantidade de sono da
tripulação, ao mesmo tempo em que criam mecanismos para manter os ciclos
biológicos de 24 horas da Terra. Para isso, os ambientes da espaçonave
devem simular os sinais geofísicos do planeta, como a exposição à luz
solar, e ter períodos marcados para o exercício físico e o consumo de
comida, necessários para a organização temporal e manutenção do
comportamento humano. "Além disso, o experimento mostra a necessidade de
identificar marcadores para a vulnerabilidade à diminuição no movimento
muscular e às mudanças no sono durante o isolamento prolongado das
missões espaciais", disse Mathias Basner, pesquisador da Universidade da
Pensilvânia, e um dos autores do estudo.
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