Novas medições sugerem que o centro da Terra é muito
mais quente do que se pensava anteriormente e que teria uma temperatura
de 6.000ºC, semelhante à da superfície do Sol.
© Flicker (ilustração da variação do calor no interior da Terra)
O núcleo sólido de ferro é cristalino e está rodeado pelo núcleo externo, líquido e em movimento.
Mas
a temperatura na qual esse cristal pode ser formado vinha sendo objeto
de um longo debate. Um novo experimento usou raios X para analisar
pequenas amostras de ferro sob uma extraordinária pressão com o objetivo
de examinar como esse material cristalino se forma e se funde.
A
análise das ondas sísmicas geradas após os terremotos em todo o mundo
pode proporcionar muita informação sobre a grossura e a densidade das
camadas da Terra, mas não podem indicar sua temperatura. Isso deve ser
calculado em um laboratório ou a partir de modelos informatizados que
simulam o interior da Terra.
As medições feitas
no início dos anos 1990 das "curvas de fundição", a partir das quais a
temperatura do núcleo terrestre pode ser deduzida, sugeriam uma
temperatura de cerca de 5.000ºC.
"Esse era só o
início desse tipo de medição, então eles fizeram uma primeira estimativa
para determinar a temperatura dentro da Terra. Outros pesquisadores
fizeram outras medições e cálculos por computador e não se chegou a
nenhum acordo. Não é bom para nosso campo de trabalho não conseguirmos
concordar uns com os outros", afirmou Agnes Dewaele, da agência de
pesquisas francesa CEA, coautora do novo estudo..
Determinar
a temperatura do núcleo terrestre é crucial para uma série de
disciplinas que estudam regiões do interior do planeta que nunca serão
acessadas diretamente, guiando nosso entendimento sobre questões como
terremotos ou o campo magnético da Terra.
"Temos
que dar respostas aos geofísicos, aos sismólogos, aos pesquisadores de
geodinâmica. Eles precisam de certos dados para alimentar os modelos
informatizados", explica Dewaele.
Sua equipe de
pesquisadores acaba de reconsiderar esses mais de 20 anos de medições
utilizando as instalações do European Synchrotron Radiation Facility
(ESRF), na França, laboratório mantido em conjunto por 19 países e que
possui uma das mais intensas fontes de raios X do mundo. Para replicar a
enorme pressão no limite do núcleo terrestre, mais de um milhão de
vezes a pressão ao nível do mar, eles usaram um dispositivo que mantém
uma minúscula amostra de ferro entre duas pontas de diamantes
sintéticos.
Após submeter as amostras a altas
pressões e altas temperaturas usando um laser, os cientistas usaram
feixes de raios X para promover uma difração, ou seja, para rebater
todos os raios X sobre o núcleo dos átomos de ferro e ver como mudava o
padrão à medida em que o ferro mudava de sólido para líquido. Esses
padrões de difração oferecem informações sobre os estados do ferro
parcialmente fundido, que é o que os primeiros pesquisadores mediram nas
experiências originais.
Eles sugerem agora uma
temperatura de cerca de 6.000ºC, com uma margem de erro de 500ºC para
mais ou para menos, aproximadamente a mesma temperatura estimada para a
superfície do Sol. Mas o mais importante, segundo observa Dewaele, é que
"agora todo mundo concorda" com as estimativas.
Os resultados foram publicados na revista especializada Science.Fonte: BBC Brasil
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