Uma equipe de astrônomos determinou com uma exatidão sem precedentes a distância ao sistema binário SS Cygni.
© Bill Saxton/NRAO/AUI/NSF (ilustração do sistema SS Cygni)
A
equipe de astrônomos utilizou o Very Long Baseline Array (VLBA) e o
European VLBI Network (EVN), duas redes gigantes de radiotelescópios nos
Estados Unidos, na Europa e Ásia, para determinar a distância ao
sistema binário SS Cygni, um dos mais estudados no céu noturno, em 372
anos-luz.
O sistema binário SS Cygni, como o
nome indica, fica localizado na constelação do Cisne e é constituído por
uma anã branca e uma anã vermelha que orbitam um centro de gravidade
comum em apenas 6,6 horas. A gravidade intensa da anã branca captura
material da companheira anã vermelha, menos maciça. Este material forma
um disco de acreção em torno da anã branca. Nesse disco, o material é
acelerado, é sujeito ao atrito, e é aquecido a temperaturas muito
elevadas até cair na superfície da anã branca. Com uma periodicidade
(muito irregular) de aproximadamente 49 dias, o sistema tem erupções em
que aumenta consideravelmente de brilho, passando da sua habitual
magnitude 12-13 para um pico de magnitude 8 (100 vezes mais brilhante).
A
explicação mais aceita para estas erupções tem a ver com a velocidade
do material no disco da anã branca até cair na superfície da mesma.
Quando o material é transferido com um ritmo elevado da anã vermelha
para o disco, este mantem-se em rotação estável. Quando o ritmo de
transferência baixa o disco torna-se instável e dá origem às erupções
observadas. Nestas ocasiões o sistema emite também ondas de rádio
provenientes de jatos de partículas que se formam nos polos do disco de
acreção.
Este mecanismo explica de forma
bastante satisfatória as características das novas anãs com a excepção,
curiosamente, da SS Cygni, o protótipo da classe. De fato, observações
realizadas com o telescópio espacial Hubble entre 1999 e 2004 permitiram
calcular uma distância para SS Cygni na ordem dos 520 anos-luz. Esta
distância faria SS Cygni a nova anã mais luminosa conhecida e a massa
das componentes seria suficiente para manter o sistema sempre ao mais
elevado ritmo de transferência, e portanto, sem erupções.
Para
tentar esclarecer esta questão, e aproveitando o aspecto da estrela
emitir ondas de rádio durante as erupções, astrônomos amadores da
American Association of Variable Star Observers (AAVSO) que monitoram
regularmente o brilho do sistema, determinaram o seu paralaxe geométrico
com enorme precisão observando o sistema em ondas de rádio através dos
interferômetros VLBA e EVN, aproveitando a sua resolução sub-segundo de
arco e usando como pontos de referência para a determinação do paralaxe
de radiogaláxias ou quasares a distâncias imensas. As observações
decorreram entre 2010 e 2012, em diferentes épocas do ano, e a distância
obtida, de 372 anos-luz, mostra que SS Cygni é afinal uma nova anã
perfeitamente normal que se encaixa perfeitamente no cenário acima
descrito como explicação para as erupções. O paralaxe obtido com o
telescópio Hubble estava sujeito a muitos fatores de erro que agora se
tornaram evidentes.
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