Em sua teoria da relatividade geral, Albert Einstein chegou à conclusão
de que o universo deveria estar em expansão, mas as evidências
observacionais da época não indicavam isso. Desta maneira, meio que a
contragosto, Einstein introduziu uma constante nessas equações, chamada
de constante cosmológica, para que o universo permanecesse estático. Na
década seguinte, de 1920, começaram a aparecer as primeiras evidências
observacionais de que o universo não seria estático. Observações de
galáxias feitas por Edwin Hubble mostraram que todas elas estavam em
movimento, todas se afastando umas das outras, como se estivessem sobre
um balão sendo inflado.
Einstein revisou suas equações, retirou a tal constante e afirmou que
ela teria sido a maior bobagem que ele já tinha feito. A partir de
então, a interpretação dessas equações – bem complicadas, por sinal –
nos levava a crer que o universo começou com uma singularidade, onde
toda a matéria do universo estava concentrada e subitamente começou uma
rápida expansão. Esse é o Big Bang. Esse termo foi cunhado por Fred
Hoyle, um defensor da teoria do universo estático, muito mais em tom de
crítica do que para, de fato, esclarecer. Isso causa uma grande confusão
na hora de entender a física do processo. Não houve uma grande
explosão, não há um centro do qual tudo parece se afastar, não havia
antes e não há nada “fora” do universo. Mas isso é assunto para outra
hora.
Desde então, os astrônomos vinham tentando medir a velocidade de
expansão do universo e tentando saber que tipo de destino o universo
teria – se a expansão seria eterna ou não. Em todos os casos, seria uma
expansão desacelerada.
Mas eis que, em meados de 1990, usando supernovas para estudar a
expansão do universo, Saul Perlmutter e uma equipe de colaboradores
descobriram que, na verdade, o universo está em expansão acelerada! Uma
descoberta tão fantástica e tão inesperada que rendeu o prêmio Nobel de
Física de 2011. Até hoje não há explicação para isso. Foi aí que se
criou o termo energia escura, que compõe 72% do Universo e que ninguém
sabe o que é. Muitas teorias tentam explicar essa componente que forma
quase três quartos do Universo, mas nada muito plausível até agora. O
que aconteceu foi a ressurreição da constante cosmológica, mas agora não
para frear o Universo, como Einstein idealizou, mas sim para
acelerá-lo.
Do ponto de vista observacional, uma colaboração internacional entre
EUA, Japão, Canadá, Espanha e Brasil acaba de anunciar alguns resultados
na tentativa de compreender melhor essa estranha forma de energia que
está acelerando o Universo.
O projeto de Busca Espectroscópica de Oscilações Acústicas de Bárions
(Boss, na sigla em inglês) se utiliza dos espectros de galáxias obtidos
por outro projeto – o SDSS – e tem como objetivo estudar o Universo em
três fases distintas. A primeira fase foi quando ele era jovem e a
gravidade predominava sobre a energia escura e o Universo era
desacelerado. A segunda é intermediária, quando gravidade e energia
escura meio que se equilibravam, e a outra é mais recente, com o
Universo mais evoluído, quando a energia escura começou a dominar e o
Universo passou a ser acelerado.
Para obter informações do Universo quando ele ainda era jovem – uns 2
bilhões de anos de idade –, a equipe do Boss utilizou espectros de mais
de 48 mil quasares, núcleos muito brilhantes de galáxias muito
distantes, a 11,5 bilhões de anos-luz. A luz destes quasares vai sendo
parcialmente absorvida por nuvens de gás distribuídas pelo caminho.
Desse jeito, é possível mapear a posição das galáxias e das nuvens. A
oscilação acústica de bárions é, na verdade, a variação periódica na
distribuição das galáxias e nas nuvens de gás intergaláctico – a matéria
visível, ou bariônica –, que acabam revelando também a distribuição de
matéria escura.
Com esses resultados, a equipe do Boss pretende caracterizar o
Universo quando ainda era dominado pela gravidade e era desacelerado por
ela. Com isso, pretendem compreender a origem dessa componente
misteriosa do universo, evidenciando também a transição entre um
Universo dominado pela gravidade para um dominado pela energia escura, o
que ocorreu há uns 5 ou 6 bilhões de anos atrás.
Fonte:G1.com
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