Não foi só de comemoração o domingo dos astronautas que retornaram da
Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês). Depois de seis
meses, o russo Oleg Kononenko, o americano Donald Pettit e o holandês
André Kuipers experimentaram novamente a gravidade terrestre. A partir
de agora, além de matar a saudade de familiares e amigos, eles
enfrentarão minuciosos exames e tratamentos médicos. Ficar meio ano
longe da Terra acarreta diversos problemas físicos, como perda de
densidade óssea, desequilíbrio hormonal e envelhecimento precoce.
No
espaço, os astronautas convivem com a microgravidade, a aparente
ausência de peso do corpo. Nessa situação, perde-se tonicidade muscular e
densidade óssea. "Nossos corpos reduzem a produção de células ósseas,
porque não há compressão nos ossos para estimular essa produção",
explica o astronauta brasileiro Marcos Pontes, atualmente na reserva da
Força Aérea Brasileira. "Isso causa um tipo de osteoporose induzida pela
microgravidade, que se agrava com o tempo de exposição". A cada mês, os
astronautas podem perder até 1,5% da massa do fêmur, por exemplo.
Esteira espacial
A fim de dirimir esses efeitos, os astronautas empreendem exercícios
físicos em duas sessões diárias. "Precisamos fazer esteira (presos por
elásticos) e exercícios de musculação (elásticos)", conta Pontes. A
esteira da ISS apareceu em uma foto do astronauta holandês André
Kuipers, que ficou famoso por publicar nas redes sociais imagens da
missão, de exercícios físicos a brincadeiras com uma gota de água em
microgravidade.
Os danos à estrutura óssea dos astronautas são tema de um dos
experimentos realizados na ISS. A fim de reduzir a perda de densidade
dos ossos, o médico japonês Toshio Matsumoto teve a ideia de utilizar
bifosfonatos, que já são usados no tratamento de osteoporose. Assim, os
astronautas foram divididos em dois grupos: um que recebeu o medicamento
antes de deixar a Terra e outro que o obteve no espaço.
Envelhecimento precoce
Mas os ossos e os músculos não são os únicos afetados pelo ambiente
extraterrestre. A microgravidade também acarreta desorientação espacial e
redistribuição dos líquidos no corpo, o que provoca desconforto, dores
de cabeça, coriza, alterações cardiovasculares, alteração da pressão
intraocular, desidratação, entre outros sintomas. A altitude de órbita,
fora da proteção da atmosfera, promove uma carga intensa de radiação e
deterioração de recomposição celular (causa envelhecimento precoce),
como atesta o astronauta brasileiro, que passou 10 dias no espaço em
2006: "Eu e meu companheiro de missão, Valeri Tokarev, por exemplo, além
de perda de densidade óssea, tonicidade muscular, envelhecimento e
exposição à intensa radiação, também tivemos, ao voltar, intensas
alergias, hemorragias nos ouvidos externos e alterações hormonais que
perduram até hoje, exigindo tratamento e causando alterações de
equilíbrio químico e peso".
Astronautas cadentes
Após seis meses longe da Terra, em condições físicas tão
debilitantes, os astronautas certamente ficam felizes com a perspectiva
do retorno. Mas a viagem parece rápida demais: "Voltarei neste Soyuz. De
28 mil km/h para 0 km/h. Nós sentamos na cápsula do meio. O resto vai
pegar fogo", publicou no Twitter o holandês no dia 25 de junho.
Pontes revela alguns detalhes do percurso, que dura pouco mais de
três horas. "Ao desconectar da ISS, fazemos duas órbitas checando os
sistemas da Soyuz. Estamos a 28 mil km/h e cerca de 400 km de altitude.
Depois, efetuamos uma queima de reentrada, para reduzir a velocidade e
começar a reduzir altitude. A espaçonave se separa em três partes com
explosões. A temperatura no painel de proteção térmico chega a mais de
1.500°C. Temos vibrações e aumento de fator de carga. Depois vêm a
abertura do paraquedas e o impacto no deserto do Cazaquistão".
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