quarta-feira, 4 de julho de 2012

Passar seis meses no espaço é desafio para o corpo humano

Não foi só de comemoração o domingo dos astronautas que retornaram da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês). Depois de seis meses, o russo Oleg Kononenko, o americano Donald Pettit e o holandês André Kuipers experimentaram novamente a gravidade terrestre. A partir de agora, além de matar a saudade de familiares e amigos, eles enfrentarão minuciosos exames e tratamentos médicos. Ficar meio ano longe da Terra acarreta diversos problemas físicos, como perda de densidade óssea, desequilíbrio hormonal e envelhecimento precoce.


No espaço, os astronautas convivem com a microgravidade, a aparente ausência de peso do corpo. Nessa situação, perde-se tonicidade muscular e densidade óssea. "Nossos corpos reduzem a produção de células ósseas, porque não há compressão nos ossos para estimular essa produção", explica o astronauta brasileiro Marcos Pontes, atualmente na reserva da Força Aérea Brasileira. "Isso causa um tipo de osteoporose induzida pela microgravidade, que se agrava com o tempo de exposição". A cada mês, os astronautas podem perder até 1,5% da massa do fêmur, por exemplo.

Esteira espacial
A fim de dirimir esses efeitos, os astronautas empreendem exercícios físicos em duas sessões diárias. "Precisamos fazer esteira (presos por elásticos) e exercícios de musculação (elásticos)", conta Pontes. A esteira da ISS apareceu em uma foto do astronauta holandês André Kuipers, que ficou famoso por publicar nas redes sociais imagens da missão, de exercícios físicos a brincadeiras com uma gota de água em microgravidade.
Os danos à estrutura óssea dos astronautas são tema de um dos experimentos realizados na ISS. A fim de reduzir a perda de densidade dos ossos, o médico japonês Toshio Matsumoto teve a ideia de utilizar bifosfonatos, que já são usados no tratamento de osteoporose. Assim, os astronautas foram divididos em dois grupos: um que recebeu o medicamento antes de deixar a Terra e outro que o obteve no espaço.

Envelhecimento precoce
Mas os ossos e os músculos não são os únicos afetados pelo ambiente extraterrestre. A microgravidade também acarreta desorientação espacial e redistribuição dos líquidos no corpo, o que provoca desconforto, dores de cabeça, coriza, alterações cardiovasculares, alteração da pressão intraocular, desidratação, entre outros sintomas. A altitude de órbita, fora da proteção da atmosfera, promove uma carga intensa de radiação e deterioração de recomposição celular (causa envelhecimento precoce), como atesta o astronauta brasileiro, que passou 10 dias no espaço em 2006: "Eu e meu companheiro de missão, Valeri Tokarev, por exemplo, além de perda de densidade óssea, tonicidade muscular, envelhecimento e exposição à intensa radiação, também tivemos, ao voltar, intensas alergias, hemorragias nos ouvidos externos e alterações hormonais que perduram até hoje, exigindo tratamento e causando alterações de equilíbrio químico e peso".

Astronautas cadentes
Após seis meses longe da Terra, em condições físicas tão debilitantes, os astronautas certamente ficam felizes com a perspectiva do retorno. Mas a viagem parece rápida demais: "Voltarei neste Soyuz. De 28 mil km/h para 0 km/h. Nós sentamos na cápsula do meio. O resto vai pegar fogo", publicou no Twitter o holandês no dia 25 de junho.
Pontes revela alguns detalhes do percurso, que dura pouco mais de três horas. "Ao desconectar da ISS, fazemos duas órbitas checando os sistemas da Soyuz. Estamos a 28 mil km/h e cerca de 400 km de altitude. Depois, efetuamos uma queima de reentrada, para reduzir a velocidade e começar a reduzir altitude. A espaçonave se separa em três partes com explosões. A temperatura no painel de proteção térmico chega a mais de 1.500°C. Temos vibrações e aumento de fator de carga. Depois vêm a abertura do paraquedas e o impacto no deserto do Cazaquistão".

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