© Mark A. Garlick (material rochoso em órbita de uma anã branca)
As
anãs brancas são o estágio final da vida de estrelas como o nosso Sol,
os núcleos residuais de material deixado para trás após se ter esgotado o
combustível necessário às suas reações nucleares. Usando o telescópio
espacial Hubble para desenvolver o maior estudo até à data da composição
química das atmosferas de anãs brancas, os investigadores descobriram
que os elementos mais frequentes na poeira em torno destas quatro anãs
brancas são o oxigênio, magnésio, ferro e silício - os quatros elementos
que constituem aproximadamente 93% da Terra.
No
entanto, uma observação ainda mais importante foi a da que este
material também contém uma proporção extremamente baixa de carbono, que
coincide de perto com a da Terra e dos outros planetas rochosos em torno
do Sol.
Esta é a primeira vez que tais baixas
concentrações de carbono foram medidas nas atmosferas de anãs brancas
poluídas por detritos. Não só é isto evidência clara de que estas
estrelas tiveram no passado pelo menos um exoplaneta rochoso agora
destruído, como também as observações devem mostrar a última fase da
morte destes mundos.
A atmosfera de uma anã
branca é constituída por hidrogênio e/ou hélio, por isso quaisquer
elementos pesados que entrem na sua atmosfera são atraídos para dentro
do núcleo e escondem-se em questão de dias graças à alta gravidade da
estrela. Isto possibilita observar a fase final da morte destes mundos à
medida que o material espirala para o interior das anãs brancas a
quantidades de 1 milhão de quilogramas por segundo.
Não
só são estas observações claras evidências de que as estrelas já
tiveram corpos exoplanetários rochosos agora destruídos, como uma anã
branca em particular, PG0843+516, pode também contar a história da
destruição destes mundos.
Esta estrela
destacou-se do resto do grupo graças à sobreabundância relativa dos
elementos ferro, níquel e enxofre na poeira descoberta na sua atmosfera.
O ferro e o níquel encontram-se nos núcleos dos planetas terrestres, à
medida que se afundam para o centro devido à gravidade durante a
formação planetária, tal como o enxofre graças à sua afinidade química
com o ferro.
Assim sendo, os pesquisadores
acreditam que estão observando a anã branca PG0843+516 no próprio ato de
engolir este material do núcleo de um planeta rochoso grande o
suficiente para atravessar a fase de diferenciação, um processo parecido
ao que separou o núcleo e o manto da Terra.
O
professor Boris Gänsicke do Departamento de Física da Universidade de
Warwick, que liderou o estudo, afirma ser provável que o processo
destrutivo que originou os discos de poeira em torno destas anãs brancas
distantes, surja um dia no nosso próprio Sistema Solar.
"O
que estamos atualmente vendo nestas anãs brancas a várias centenas de
anos-luz de distância pode muito bem ser um presságio do futuro muito
distante da Terra. À medida que estrelas como o nosso Sol chegam ao
final da sua vida, incham para se tornarem em gigantes vermelhas quando o
combustível nuclear nos seus núcleos se esgota."
"Quando
isto acontecer no nosso próprio Sistema Solar, daqui a milhares de
milhões de anos, o Sol engolirá os planetas mais interiores, Mercúrio e
Vênus. Não se sabe se a Terra irá sofrer o mesmo destino durante a sua
fase de gigante vermelha, mas mesmo que sobreviva, a sua superfície
ficará torrada."
"Durante esta transformação do
Sol em anã branca, irá perder uma grande quantidade de massa, e todos os
planetas irão mover-se para fora. Isto irá destabilizar as órbitas e
levar a colisões entre os corpos planetários, tal como aconteceu nos
primeiros dias instáveis do nosso Sistema Solar."
"Isto
poderá até destruir planetas terrestres por inteiro, formando grandes
quantidades de asteróides, alguns dos quais terão composições químicas
semelhantes às do núcleo planetário. No nosso Sistema Solar, Júpiter
provavelmente sobrevive incólume à evolução final do Sol, e espalhará
asteróides, novos e velhos, na direção da anã branca."
"É
inteiramente provável que em PG0843+516 estejamos vendo a acreção de
tais fragmentos feitos a partir de material do núcleo de um exoplaneta
terrestre."
A equipe da Universidade de Warwick
estudou mais de 80 anãs brancas até algumas centenas de anos-luz do Sol,
usando o instrumento COS (Cosmic Origin Spectrograph) a bordo do
telescópio Hubble.
Nenhum comentário:
Postar um comentário